Na qualidade de ateia e sob o ponto de vista pessoal, obviamente sou contra o Islão. Quem diz Islão diz Cristianismo, Paganismo Europeu, Hinduísmo e até mesmo contra Xamanismo nativo-americano.
Sou contra porque não acredito em entidades sobrenaturais e ainda mais contra sou que a humanidade viva em função de entidades que, por questão empírica, não existem.
No entanto, a minha pessoa social, laica e humanista tem outra opinião.
Sou da opinião que cada um tem liberdade para acreditar no disparate que quiser, viver em função dele, desde que, com a sua conduta não prejudique terceiros. E aqui é que está o gato! Em que medida é que se está a prejudicar terceiros?
Muitos concordarão que os Homens-Bomba prejudicam terceiros. Matar 22 pessoas e ferir outras tantas num concerto de música pop é, sem sombra de dúvidas, prejudicar terceiros em nome de uma entidade sobrenatural, neste caso específico, Alá.
Então mas e o resto?
Por exemplo, incutir logo desde tenra idade, nas crianças, que Deus castiga se a criança não comer a sopa toda? Não é esta igualmente uma forma de abuso humano, ainda que menor em termos comparativos com a morte?
Noutra nota, irrita-me um pouco esta hipocrisia de parcialmente se desculpar actos desumanos - uns porque não nem sequer se considerarem desumanos sob a capa da religiosidade, o caso de Deus castigar uma criança por não comer a sopa - porque é religião e todos têm o direito a ela.
Laicidade
O direito a ter-se a religião que se quer, e a falta da mesma também.
A laicidade, num mundo idílico é bonita e recomenda-se. O mundo idílico, para mim, é um mundo com maturidade suficiente para se respeitar o próximo, mesmo desde pequenos. Os filhos não são nossa propriedade. São apenas seres humanos pequeninos que nasceram livres pensadores, tal como nós o devemos sempre ser. Incutir numa criança o medo da superstição só serve para criar adultos com traumas.
Entretanto, a laicidade num mundo cujos valores sociais ainda estão imaturos, o caso do nosso mundo e único que conhecemos, leva a um distorcimento da própria laicidade.
Será legítimo que se devolva a território do Médio-Oriente todos os que, por simples associação étnica e religiosa, se identifiquem com esse território? É o que uns pensam.
Será igualmente legítimo que se deixe criar guetos em pleno território laico, em que as leis são alteradas a casos religiosos e a aplicação das mesmas impostas à força pelos próprios intervenientes? É o que outros pensam.
A laicidade vai por água abaixo quando valores (monetários) mais altos se levantam.
Num caso nacional e mais católico, tivemos recentemente a visita do Papa Francisco a Portugal. Atrai turismo, atrai comércio, atrai audiências aos media e atrai não-sei-bem-o-quê ao Estado. Temos portanto, num país constitucionalmente laico, um Presidente da República que se agacha em público para beijar a mão ao Papa. Independentemente da religião do Sr. Presidente, tem uma função pública e é sobre essa que deve cumprir. Nunca por opções pessoais. Essas fazem-se em privado.
Num panorama internacional, e voltando agora ao problema do Médio-Oriente e as diferentes e controversas formas de religião que aí se praticam, faz-me espécie os alvos geo-politicamente estruturados e o que o "ocidente" ao longo de décadas fez e continua a fazer, em nome do tão famigerado "ouro negro" que traz lucros aos milhões.
Concluindo, há mais uma divindade inventada pelo homem que todos nós nos vergamos e por ela se mata, e dela se depende, e por ela se vive.
Sim, é o dinheiro o nome desse novo Deus castigador. Uns adoram o Dólar, outros o Euro e ainda outros a Libra, mas esse Deus é só um é a soma de todos os males do mito da Caixa de Pandora.
E pelo dinheiro vão existindo Homens-Bomba a quem lhes convenceram que esse deus se chama Alá e que lhes promete um paraíso com 72 moças virgens.
Pelo dinheiro vão existindo crentes Marianos que deixam a pouca fortuna que têm em Fátima, à espera que um milagre resolva problemas de ordem natural e social.
Enfim, pelo dinheiro se permite que humanos matem seres da própria espécie num comportamento quase primal.
E temos a lata de nos denominarmos civilização?